Por Marcus Tavares
Programa Esse Rio é Meu impulsiona ações pedagógicas, artísticas e ambientais desde 2023, culminando em uma grande mobilização estudantil na Intercult e na ação “Vem pro Rio”, que celebrou a relação da comunidade escolar com o meio ambiente.

A Escola Municipal Orsina da Fonseca, localizada na Tijuca, Zona Norte do Rio, vive uma transformação que atravessa disciplinas, linguagens e gerações. Desde 2023, a unidade integra o programa Esse Rio é Meu. Após a primeira capacitação, a professora Teresa Alves uniu-se ao coordenador pedagógico Daniel Ferreira e à equipe gestora para planejar estratégias de implementação. Logo, os professores Edson Silveira (Artes), Maria Cristina Zamith e Alexandra Magalhães, que desenvolviam atividades na horta escolar, passaram também a compor o núcleo do projeto.
As primeiras turmas participantes foram as do 9º ano, que percorreram o trecho urbano do Rio Trapicheiros até o alto da Rua Saboia Lima, onde o curso d’água forma um lago na Praça Hans Klussmann, o conhecido “Parque dos Bichinhos”. As trilhas educativas seguiram até 2024, acompanhadas de atividades interdisciplinares expostas nos murais e apresentadas às famílias.
Em 2025, a proposta ganhou novo fôlego ao ser incorporada a outras disciplinas. O professor e artista plástico Edson Silveira ampliou a abordagem com narrativas sobre desenvolvimento sustentável e poéticas visuais, inspiradas em textos como Ideias para adiar o fim do mundo, de Ailton Krenak.

Intercult 2025: uma escola tomada pelo meio ambiente
No segundo semestre, a escola — bilíngue em espanhol e mandarim — promoveu a Intercult, festa intercultural organizada pela professora Morgana Pessôa, da Sala de Leitura. O tema foi Meio Ambiente: aquecimento global e mudanças climáticas. Durante uma semana, os corredores foram preenchidos por exposições, palestras e apresentações artísticas, incluindo a performance do Grupo Trapiche, formado por jovens violonistas orientados voluntariamente pelo poeta e músico Antonio Indin.
A participação foi ampla: alunos de todas as etapas, inclusive do PEJA, integraram-se às atividades, contribuindo para o sucesso do evento.

Entre as instalações expostas, destacou-se o “rio” criado pelos estudantes do professor Edson. Com uma rede de pesca presa à parede, os alunos iniciaram a obra preenchendo-a com materiais poluentes, como descartáveis. Aos poucos, foram “despoluindo” o rio, substituindo o lixo por representações de fauna e flora. Em frente à instalação, uma exposição de fotos do fotojornalista Ale Silva reforçava a temática ambiental.

Silveira lembra que, ao longo do ano, também desenvolveu com a professora Alexandra uma ação na horta da escola sobre coleta seletiva. “Incluímos a coleta de material orgânico para a produção de compostagem”, relata. Ele lamenta, porém, a ausência de um projeto político-pedagógico mais amplo sobre o tema, o que tende a fragmentar as iniciativas.
Literatura e engajamento: concurso e gincana

A Intercult também movimentou a escola com duas ações literárias que duraram cerca de dois meses.
O Concurso Literário, que reuniu produções de gêneros variados, premiou trabalhos do PEJA, das turmas de 6º e 7º ano e das turmas mais avançadas. Já a Gincana Literária consagrou a turma 1602, responsável pela maior arrecadação de livros para a Sala de Leitura.

No total, a escola recebeu 780 títulos, entre revistinhas, mangás — muito pedidos pelos alunos e de alto custo — e livros infantis e infantojuvenis. Duzentos livros infantis foram doados à Escola Municipal Leitão da Cunha, que hoje funciona provisoriamente no primeiro andar da Orsina, após um incêndio em sua sede no primeiro semestre.
“Vem pro Rio”: ciência, arte e conscientização
Como culminância das atividades ambientais, no fim de novembro foi realizada a ação Vem pro Rio, com a participação da concessionária Águas do Rio. A empresa demonstrou processos de coleta e análise da água do Rio Trapicheiros e da água consumida na escola, reforçando a importância de cuidados cotidianos para a preservação dos recursos hídricos.

Os alunos produziram grandes cartões que formaram a frase “Salvem o Rio Trapicheiros”. O fotojornalista Ale Silva voltou à escola para uma performance: usando máscara de oxigênio conectada a um cubo de acrílico com uma planta em seu interior, aproximava-se dos estudantes e perguntava: “Que ar você respira?”

O evento encerrou-se com a apresentação do Grupo Trapiche, que cantou e tocou a música “Amar o Mar”, de composição coletiva. Os versos ecoaram pela escola como síntese do espírito do projeto:

“rapiche, Trapicheiros, corre pro Maracanã
Não quero seu dinheiro, mas quero a vida sã
Sanidade em qualquer idade
Sem desmatamento / sem aquecimento / sem descaramento
Porque Esse rio é meu / Esse rio é nosso
Nosso Rio de Janeiro / Nosso Rio Trapicheiros.
O programa Esse Rio É Meu é desenvolvido em conjunto pela Secretaria Municipal de Educação e pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente da Prefeitura do Rio, em parceria com a oscip planetapontocom e a concessionária Águas do Rio – patrocinadora do programa. O objetivo do programa é engajar escolas na recuperação e preservação dos rios. Cada grupo de escolas da rede pública de ensino do Rio ficou responsável por desenvolver ações em torno de um dos corpos hídricos da cidade.
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