Do valão ao pertencimento: GET Osmar Paiva Camelo, na Maré, mobiliza alunos para recuperar Rio local

O GET Osmar Paiva Camelo, localizado no conjunto de favelas da Maré, recebeu o programa Esse Rio é Meu em março de 2023, acompanhado de formações oferecidas aos professores. Inicialmente desenvolvido com os estudantes do 2º ano, o projeto mobilizou professores da disciplina de arte e toda a equipe escolar em torno de um objetivo comum: despertar a consciência socioambiental das crianças a partir da realidade do território.

Segundo a equipe pedagógica, a implantação se deu após reuniões internas, quando professores e gestores definiram como o programa seria trabalhado na escola. As primeiras ações incluíram pesquisas sobre a área da comunidade, realizadas com as próprias crianças, para entender quais medidas seriam necessárias para enfrentar o problema do lixo que polui o rio mais próximo — um curso d’água que, ao longo dos anos, acabou se transformando em um valão e hoje deságua diretamente na Baía de Guanabara.

Arte, leitura e ativismo: um projeto interdisciplinar

O projeto foi desenvolvido com as turmas do 2º ano como uma experiência interdisciplinar, envolvendo Arte e os professores generalistas. Um dos materiais-chave utilizados foi o livro “Futuro Ancestral”, de Ailton Krenak, que serviu de base para conversas e criações artísticas.

O objetivo central era claro: desenvolver a consciência socioambiental sobre a importância dos rios e dos ecossistemas aquáticos por meio da criação artística — usando a arte como ferramenta de reflexão, expressão e ativismo.

As crianças produziram histórias, desenhos e experimentações criativas que abordavam o cuidado com os espaços comuns e os impactos do descarte inadequado de lixo. O trabalho de campo realizado na comunidade trouxe uma dimensão concreta ao aprendizado e ampliou a compreensão dos estudantes sobre o problema ambiental.

Participação ampliada e interesse crescente

Embora a execução estivesse concentrada na disciplina de Arte, a repercussão foi grande entre toda a comunidade escolar. Professores, funcionários, estudantes e familiares envolveram-se ativamente, sobretudo nas etapas práticas e nas saídas de campo.

De acordo com a direção, “o programa gera bastante interesse por estarmos trabalhando concretamente com o espaço da comunidade”. As crianças, ao levarem o tema para casa, passaram a envolver também seus familiares, um efeito esperado e valorizado pela equipe.

“A gente espera que haja conscientização das crianças e, por meio delas, dos pais. Esse rio, que virou um valão, recebe grande quantidade de lixo e desemboca na Baía de Guanabara. É fundamental que a comunidade entenda a importância de manter essas águas limpas e de proteger as espécies que vivem ali”, explica a professora Cristina Oliveira Carneiro.

Parceria com a Águas do Rio amplia ações e inspira novos projetos

Há cerca de três meses, a escola estabeleceu uma parceria com a Águas do Rio, fortalecendo ainda mais as iniciativas do Esse Rio é Meu. A empresa apresentou à escola uma peça teatral sobre poluição — destaque da Semana da Criança — que provocou grande impacto nos alunos. “As crianças ficaram impressionadas com o bicho do sujão e conversaram muito sobre o lixo que produzimos”, relata Cristina.

Logo depois, a escola recebeu uma artista convidada pela concessionária, que realizou uma pintura na rampa de acesso às salas. A obra retrata elementos da própria comunidade: o verde, as antigas casas de palafitas e a história local. As crianças acompanharam o processo, fizeram perguntas e participaram da inauguração, realizada durante a Feira de Tecnologia e Sustentabilidade — evento anual da escola.

A parceria seguirá em 2026, integrando o projeto norteador da unidade. A equipe escolar já planeja levar os alunos para observar o entorno do rio, especialmente em dias de chuva, a fim de compreender como o descarte incorreto de resíduos impacta o escoamento da água e, posteriormente, a Baía de Guanabara.

“É muito enriquecedor proporcionar essa vivência às crianças. A ideia é sair da escola, conhecer o território, ver o que está acontecendo e construir com elas uma nova realidade — que elas possam levar para casa e transformar também a visão da família”, conclui Cristina.

Com passos firmes, arte, investigação e mobilização comunitária, o projeto Esse Rio é Meu se consolida como mais do que uma ação pedagógica: torna-se uma forma de reconstruir vínculos, recontar a história do território e inspirar novos modos de cuidado — com o rio, com o bairro e com o futuro.

O programa Esse Rio É Meu é desenvolvido em conjunto pela Secretaria Municipal de Educação e pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente da Prefeitura do Rio, em parceria com a oscip planetapontocom e a concessionária Águas do Rio – patrocinadora do programa. O objetivo do programa é engajar escolas na recuperação e preservação dos rios. Cada grupo de escolas da rede pública de ensino do Rio ficou responsável por desenvolver ações em torno de um dos corpos hídricos da cidade.

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