
Coube ao professor Sérgio Abranches, escritor, sociólogo e PHD em ciência política e sociologia comparada pela Cornell University, mediar o primeiro painel do seminário. Colunista de alguns veículos de imprensa, Sérgio é conhecido por seus estudos sobre democracia, globalização e mudanças climáticas, especialmente no contexto brasileiro
Em sua apresentação, o professor trouxe uma reflexão sobre o que significa transformar o território, lançando luzes sobre o papel da escola como agente de transformação social e ambiental.
“A escola é hoje a principal agência de socialização. Num contexto em que muitas famílias estão desestruturadas e o trabalho perdeu centralidade, é a escola que forma, que irradia valores, que mobiliza a comunidade”, afirmou.
Para Sérgio, o território não é apenas geografia, é um organismo vivo que envolve natureza, ambiente construído, relações sociais e os próprios corpos. E, segundo ele, o cuidado com o território começa pelo cuidado com as pessoas. “O nosso território vai do nosso corpo à nossa comunidade, à nossa cidade, ao nosso país e ao planeta. Tudo está conectado”, disse. A compreensão dessa abordagem integrada é, portanto, essencial para que qualquer transformação seja, de fato, duradoura.
Transformação real exige prática concreta
Sérgio também enfatizou a importância de práticas transformadoras concretas que gerem benefícios visíveis para a comunidade. “A prática não é só ativismo. É exemplo. É mostrar que a ação coletiva produz resultado. Quando a comunidade vê isso, ela se engaja. Ela se reconhece como parte da transformação.”
“Achamos que tudo está separado. Nada está separado. Tudo está conectado. O macro nasce do micro. Não existe mapa que não seja feito de pequenas unidades. Por isso, cada escola, cada comunidade importa.”
Ele argumentou que o investimento em educação e infraestrutura ambiental básica — como saneamento, moradia e abastecimento — reduz diretamente a demanda sobre os serviços de saúde pública. “A escola saneada forma crianças mais saudáveis, mais aptas à aprendizagem, mais produtivas. Isso impacta não só a comunidade, mas o orçamento do município e do país.”
A escola como raiz da transformação
Encerrando sua fala, o sociólogo reiterou que é na escola que deve começar qualquer processo de transformação territorial. “Se começarmos pela raiz — a escola —, essa mudança se irradia pela comunidade, pela cidade, pelo país. A escola tem esse poder. A criança, hoje, tem voz. E isso é uma coisa boa. Ela descobre que é protagonista, que também se forma a si mesma.”
E concluiu: “A transformação não virá de grandes decretos. Ela nasce do cotidiano, da prática comunitária, do exemplo, da escola viva e presente no território. É nisso que eu acredito.”