‘O advento da chamada Educação 5.0 marca um novo paradigma no qual o uso intensivo de tecnologias digitais é aliado à promoção de uma formação integral’

Por Carlus Augustus Jourand Correia.
Dr. em Educação. Professor. Historiador, especialista em políticas públicas
Coordenador pedagógico na Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro
Professor do Instituto de Educação Rangel Pestana, localizado no município de Nova Iguaçu.

Da lousa ao link: a transformação do educador em mediador na era digital

Ao longo de quase vinte anos dedicados à docência, pude observar uma profunda transformação no papel do educador. Se antes o professor era compreendido como a principal fonte do saber, atualmente sua função evoluiu para a de mediador, facilitador e orientador do processo de aprendizagem. Essa mudança tem sido impulsionada, sobretudo, pela incorporação das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDICs) nos contextos educacionais.

O advento da chamada “Educação 5.0” marca um novo paradigma no qual o uso intensivo de tecnologias digitais é aliado à promoção de uma formação integral, que contempla não apenas habilidades técnicas e cognitivas, mas também competências socioemocionais. Nesse cenário, o professor passa a atuar como tutor e guia na construção ativa do conhecimento, promovendo práticas pedagógicas centradas no estudante. A personalização do ensino ganha destaque, buscando atender às necessidades específicas de cada aluno e fomentando a autonomia no aprender.

Para desempenhar adequadamente esse novo papel, torna-se essencial que os educadores desenvolvam competências digitais e pedagógicas robustas. A fluência comunicacional em ambientes digitais também se mostra indispensável, possibilitando a interação eficaz com os estudantes em múltiplas plataformas e espaços virtuais. Da mesma forma, a capacidade de colaboração e o trabalho em equipe tornam-se competências-chave, refletindo a natureza interconectada do conhecimento na contemporaneidade.

Entretanto, a consolidação de um modelo educacional digital e conectado esbarra em contradições estruturais do sistema educacional brasileiro. Uma das principais barreiras é a desigualdade de acesso: muitos estudantes ainda enfrentam a falta de dispositivos adequados ou de conexão à internet de qualidade. Além disso, a carência de formação específica para os docentes dificulta a integração efetiva das ferramentas digitais às práticas pedagógicas. Não são poucos os professores que se sentem inseguros ou despreparados para utilizar plataformas de ensino, aplicativos e ambientes virtuais de aprendizagem de maneira significativa.

A resistência à mudança, tanto por parte de alguns educadores quanto de instituições, constitui outro entrave. A preferência por métodos tradicionais, aliada à escassez de investimentos em infraestrutura e à dificuldade de adaptação dos conteúdos às novas mídias, limita o potencial transformador das tecnologias.

Os desafios relacionados ao uso das TDICs na educação brasileira revelam, em última instância, as desigualdades sociais e estruturais do país. Ainda que essas ferramentas possuam grande potencial de inovação e democratização do ensino, sua efetiva implementação depende da superação de obstáculos como a exclusão digital, a falta de formação continuada para professores, a resistência institucional e a ausência de políticas públicas eficazes. Para que a tecnologia possa, de fato, cumprir seu papel educativo, é necessário garantir acesso, inclusão e preparo. Somente assim será possível construir uma educação mais equitativa, atualizada e acessível a todos.

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