Do bastidor à frente das câmeras: Laura Kotscho e o jornalismo como missão

Entrevista com Laura Kotscho

Por Marcus Tavares

Com sobrenome de peso na imprensa brasileira, Laura Kotscho poderia ter seguido outros caminhos, mas nunca quis. Jornalista por vocação e paixão desde criança, ela cresceu rodeada de histórias, gravações e redações. Depois de passar pela produção e redação de diferentes programas no canal ICL Notícias – portal de jornalismo independente, Laura agora divide a apresentação do ICL Urgente com Rodrigo Vianna, levando ao público, em tempo real, os principais acontecimentos do dia com agilidade e compromisso.

Nesta entrevista à revistapontocom, Laura fala sobre sua trajetória até o comando do novo programa jornalístico, os desafios de fazer jornalismo ao vivo em um país marcado por desinformação, o papel da imprensa independente e o futuro da profissão que escolheu por amor. Com a leveza de quem acredita no que faz e a seriedade de quem conhece o peso das palavras, ela também deixa um recado para os jovens que estão começando: “se é isso que você quer, não desista”.

Confira, a seguir, a entrevista:

revistapontocom – Como foi sua trajetória até chegar ao ICL Urgente?
Laura Kotscho – Entrei no canal ICL Notícias no começo de 2023, no meio, na verdade, de 2023, como redatora do ICL Notícias 2ª Edição. E aí, no começo de 2024, virei redatora e diretora do programa Rolê ICL, onde eu fiquei um ano trabalhando no programa. No começo de 2025, conversei com os meus diretores que eu estava buscando outros caminhos, outras experiências. Eles estavam criando esse programa. E então veio esse convite para eu apresentar junto com o Rodrigo e fazer o roteiro.

revistapontocom – O que motivou você a seguir carreira no jornalismo, sendo de uma família com tradição na área?
Laura Kotscho – Brinco que nunca nem pensei em ter outra opção. Na verdade, quando era muito pequenininha, queria ser carteira de jornalista porque achava que ia conhecer todo mundo. Mas, no fundo, essa motivação é a mesma do jornalismo: conhecer a vida das pessoas como uma profissão. Então, poder conhecer outros lugares, conhecer outras pessoas, contar a história das outras pessoas… Meu avô sempre foi um contador de histórias, como jornalista, e eu sempre fiquei maravilhada com as histórias que ele contava, das reportagens que ele fazia, de conhecer o interior do Brasil, os rincões do Brasil e as reportagens que a minha mãe fazia também. A minha mãe gravava todas as reportagens que fazia e eu passava dias, virando as noites, assistindo às reportagens. Sempre fui muito maravilhada pela profissão. Nunca nem pensei em fazer outra coisa. Além disso tudo, tem a importância do jornalismo na sociedade. Informar as pessoas sobre os direitos delas, fazer denúncias, ajudar as pessoas que precisam… O jornalismo é uma profissão muito nobre e muito importante para a sociedade.

revistapontocom – Quais foram os principais aprendizados ao longo do caminho como redatora e produtora?
Laura Kotscho
– Aprendi muito como redatora e como produtora, principalmente porque eu tive oportunidade, tenho oportunidade, de trabalhar com profissionais incríveis no ICL e que me ensinam muito todos os dias. Cheguei aqui sem saber como fazer as coisas, basicamente. A gente aprende na faculdade, mas é na prática, na verdade, que você aprende como fazer. Aprendi a apurar as notícias, selecionar que notícias a gente vai dar, de que forma que a gente vai informar. O que é importante, o que não é importante.  Aprendi muito como produtora também. Trata-se de uma responsabilidade diferente, mas muito interessante de organizar todo o trabalho. Você está em todas as áreas, vê aquela engrenagem funcionando. No ano passado, fui produtora dos web documentários. Foi um grande aprendizado. Sou muito grata a todos com quem já trabalhei e trabalho.

revistapontocom – Como é crescer em uma família com tantos jornalistas renomados?
Laura Kotscho
– Quando eu era pequena, eu não sabia que meu avô [Ricardo Kotscho] era famoso, que ele era um jornalista renomado. Os professores sempre viam meu nome na chamada e falavam ‘Ah, você é neta do Kotscho?’ Eu ficava pensando, nossa, mas como que meu avô é amigo de todos os meus professores? Por que todos os meus professores conhecem meu avô? Demorei para entender a importância do meu vô, a importância dele para a história do jornalismo e da democracia brasileira. Com a minha mãe [Marina Kotscho] a mesma coisa. Portanto, é um orgulho muito grande carregar esse sobrenome e continuar essa trajetória no jornalismo. Claro que às vezes eu fico com a sensação de que as pessoas vão julgar minhas conquistas pelo fato de eu ser da família. E inegável que pelo fato de a minha família trabalhar no jornalismo, com certeza, me abrem portas. Mas para eu ficar é mérito meu. Espero fazer jus a tudo que a minha mãe e meu avô já construíram.

revistapontocom – Como tem sido a experiência de apresentar o ICL Urgente ao lado de Rodrigo Vianna?
Laura Kotscho
– Trabalhar com o Rodrigo tem sido uma experiência incrível. Ele é um professor, um grande amigo. A gente se diverte e troca muito. Fazemos o roteiro junto, nós dois, e o Pablo, que é o outro redator do ICL Urgente. Tenho aprendido muito com ele: que notícias devemos selecionar, o que é urgente, o que não é urgente, o que é hard news, o que a gente pode deixar passar, quais as abordagens que a gente vai ter sobre determinado tema, o que a gente vai trazer, o que é importante para os nossos ouvintes, para os nossos telespectadores e por aí vai. O Rodrigo é um cara muito tranquilo no sentido de ensinar. Tem sido uma oportunidade incrível tanto profissional quanto pessoal.

revistapontocom – O que diferencia o ICL Urgente de outros programas jornalísticos?
Laura Kotscho
– A proposta do ICL Urgente é trazer as notícias quentes da tarde, porque a nossa grade de jornalismo acaba meio-dia e volta às 5 da tarde com o que aconteceu no período. Trata-se de uma sequência de notícias bem rápida e informativa. Temos, em média, 10 a 12 notícias no programa de meia hora. São notícias do dia e, claro, às vezes algumas repercussões de dias anteriores.

revistapontocom – Qual é o desafio de manter um programa ao vivo e diário no atual cenário político e informativo brasileiro?
Larua Kotscho –
Acho que há dois desafios. O primeiro é quando não tem nada no dia.  Neste sentido, temos que descobrir que informações são mais importantes para o programa, que é quente. Não tem como pegar notícias, pautas frias, do dia anterior. Isso é ruim. Outro desafio é o programa ser ao vivo às cinco da tarde quando as coisas também estão acontecendo. Então o roteiro vai mudando o tempo inteiro. Às vezes a pauta cai porque entrou algo de última hora e mais importante. Na verdade, esses desafios são de todo jornalismo diário. No cenário político e informativo brasileiro, é um desafio diário trazer informações de qualidade, os fatos, porque a gente tem vivido uma crise muito grande de desinformação.

revistapontocom – Qual o papel do jornalismo independente no Brasil de hoje?
Laura Kotscho
– Acho que a imprensa independente faz um complemento à imprensa tradicional de diversificar as narrativas e trazer pautas, às vezes, que não interessam à grande imprensa, mas que são importantes para a sociedade e que são negligenciadas. Então, eu acho isso muito importante a gente falar, então falar sobre, por exemplo, fiz uma matéria recentemente sobre um coletivo que trabalha na Cracolândia, ou falar sobre o filme Manas, sobre exploração sexual na ilha de Marajó. Então, essas pautas, diversificar essas pautas e trazer para a população essas informações.

revistapontocom – Como você avalia o futuro do jornalismo?
Laura Kotscho
– Certa vez, perguntei para o meu avô se ele achava que o jornalismo estava acabando. Ele contou uma história que, 40 anos atrás, ele foi chamado para dar uma palestra, cujo tema era:  o jornalismo está acabando. Vinte anos depois, ele foi chamado para dar uma outra palestra. E o tema da palestra era: o jornalismo está acabando. Então, o jornalismo nunca vai acabar. O jornalismo vai se tornar cada vez mais essencial com essa crise da desinformação que a gente vem sofrendo por conta das redes sociais. O jornalismo vai se adaptar aos meios de comunicação, à internet, aos avanços da tecnologia, mas nunca vai deixar de existir. E, mais do que isso, vai continuar sendo essencial.

revistapontocom – Qual mensagem você gostaria de deixar para jovens jornalistas que estão começando na profissão?
Laura Kotscho
– Se você acha que o jornalismo é a sua profissão, que é o caminho que você tem que seguir, não desista. Não desista. Quando comecei, ouvi de muitas pessoas que o jornalismo não dá dinheiro. Acho que o dinheiro não tem que ser o objetivo, o dinheiro tem que ser o resultado de um bom trabalho. Se você for um bom jornalista, você tem que pensar no que você vai entregar para a população. Você tem que pensar que você vai ser feliz no seu trabalho porque grande parte da sua vida vai ser dedicada ao seu trabalho. Você tem que estar feliz fazendo aquilo que você gosta. E o jornalismo, para quem gosta de certa aventura, de uma adrenalina, de estar cada dia em um lugar diferente, o jornalismo é a sua profissão. Tenho um amigo que o sonho dele era fazer jornalismo, mas ele caiu nessa de “ah, jornalismo não dá dinheiro”, não sei o quê, foi fazer faculdade de direito e hoje se arrepende e pensa em fazer jornalismo. Então se este é o seu sonho, não desista.

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