Programa Esse Rio é Meu chega à maturidade e mira expansão em 2026.

Por Marcus Tavares

Criado para fortalecer a educação ambiental e o vínculo das comunidades escolares com os rios do território onde vivem, o programa Esse Rio é Meu encerra 2025 consolidado como uma política educacional de impacto no município do Rio de Janeiro. Presente nas 1.557 escolas da rede municipal, a iniciativa ultrapassa agora os muros das salas de aula e se prepara para um novo ciclo de expansão, com foco em outros municípios, no Ensino Médio e em ações de empreendedorismo social sustentável.

Entrevista com Silvana Gontijo, idealizadora do programa Esse Rio é Meu

À frente do programa está Silvana Gontijo, jornalista, escritora, presidente do planetapontocom e idealizadora do Esse Rio é Meu. Nesta entrevista à revistapontocom, ela faz um balanço do ano, detalha os desafios da expansão e explica como a educação ambiental pode se transformar em geração de renda, protagonismo juvenil e mobilização comunitária.

revistapontocom – Qual o balanço do Esse Rio é Meu em 2025?
Silvana Gontijo –
Em 2025, a gente pode dizer que o programa alcançou a maturidade. Ele já estava implementado desde 2024 nas 1.557 escolas da Prefeitura do Rio, mas, neste ano, passamos a olhar para esse resultado com foco na expansão. A ideia foi compreender que essa tecnologia social já podia sair do contexto do Rio de Janeiro e chegar a outros municípios. Ao longo do ano, trabalhamos justamente nessa perspectiva: expandir para novos territórios e também para outros públicos, como o Ensino Médio, além de desenvolver e implementar ações de empreendedorismo social sustentável. Esse foi o nosso trabalho mais concentrado em 2025.

revistapontocom – Quais são as perspectivas do Esse Rio é Meu para 2026, na Prefeitura do Rio?
Silvana Gontijo –
As perspectivas para 2026 são de aprofundar muito a atuação nas 1.557 escolas, mobilizando as comunidades do entorno e promovendo uma mudança cultural na relação dessas populações com os rios. É um trabalho voltado para a integração escola-comunidade e para a compreensão de que essa causa é de todos. Por isso, a gente costuma dizer que 2026 é o ano do “Esse Rio é Nosso”. O Esse Rio é Meu transborda para além dos muros das escolas. E, junto com a Prefeitura do Rio, vamos trabalhar também com a Educação de Jovens e Adultos (EJA), que é um público estratégico dentro da rede municipal. A ideia é dedicar algumas áreas do conhecimento ao desenvolvimento de noções de empreendedorismo social sustentável.

revistapontocom – Pode explicar melhor como funcionarão, na prática, os cursos de empreendedorismo?
Silvana Gontijo –
Os cursos de empreendedorismo social sustentável partem de uma observação muito concreta. Em várias regiões onde os rios já foram recuperados, espaços que antes eram degradados, como valões e áreas de descarte irregular de lixo, se transformaram em lugares aprazíveis. Isso gera naturalmente uma mudança de vocação desses territórios. A partir daí, surge a pergunta: como usar esses espaços, geralmente em áreas de extrema vulnerabilidade social, para gerar renda? O primeiro passo foi identificar quais públicos deveriam ser priorizados. Entendemos que dois grupos vivem situações de extrema vulnerabilidade: as mães solo e os jovens que não estudam nem trabalham. Antes de qualquer formação técnica, percebemos que essas pessoas precisam de acolhimento, apoio psicológico e de um trabalho de valorização pessoal. Por isso, uma das primeiras medidas será oferecer suporte psicológico, de forma que as turmas também se constituam como redes de apoio. Em seguida, estruturamos quatro trilhas de conhecimento. A primeira é voltada para o plantio orgânico e biodinâmico, articulado à gastronomia orgânica. A segunda trabalha a reciclagem de resíduos sólidos, com ênfase em garrafas PET e no reaproveitamento do óleo de cozinha para a produção de sabão. A terceira trilha envolve turismo ambiental e cultural, resgatando as manifestações culturais dos próprios territórios. E a quarta forma jovens e mães empreendedores da comunicação, que poderão atuar nas favelas como prestadores de serviços de mídia e comunicação. Essas formações são desenvolvidas por meio de parcerias estratégicas, como com o SESI, e é fundamental que tudo esteja articulado com parceiros locais. A ideia é deixar um legado permanente, não realizar ações pontuais.

revistapontocom – O que significa a expansão do Esse Rio é Meu para mais quatro municípios? Quais são os principais desafios?
Silvana Gontijo –
Essa expansão implica, antes de tudo, uma mudança na estrutura da própria instituição. Nós nunca chegamos de forma prescritiva aos territórios. O nosso objetivo é construir, junto com cada município, a sua própria experiência com o Esse Rio é Meu. Isso significa customizar a metodologia e os conteúdos de acordo com o currículo local, a realidade do município e as políticas ambientais existentes. É fundamental alinhar as práticas pedagógicas às políticas públicas ambientais para evitar frustrações e, ao contrário, fortalecer o apoio da população às ações de proteção ambiental. Outro desafio é articular esse trabalho com a Secretaria de Educação, a Secretaria de Meio Ambiente e também com a patrocinadora, a Águas do Rio, considerando as iniciativas que a empresa desenvolve em cada território. Cada município é uma realidade muito própria, e essa adaptação constante exige sensibilidade e escuta. Além disso, há o desafio interno de formar novas pessoas para a equipe, que compreendam a forma de trabalho do planetapontocom, baseada em relações horizontais e colaboração. Isso é essencial e, na minha avaliação, uma das razões do sucesso do programa.

revistapontocom – E qual é a perspectiva de ação junto ao Ensino Médio?
Silvana Gontijo –
Trabalhar com o Ensino Médio é, de certa forma, um novo começo. Estamos lidando com componentes curriculares muito diferentes da Educação Infantil e do Ensino Fundamental, além de uma estrutura mais fragmentada. Muitos professores atuam em várias escolas, o que torna o trabalho interdisciplinar mais desafiador. Mesmo assim, esse é o nosso investimento. Quando começamos na rede municipal do Rio, não havia tempo reservado na agenda escolar para o planejamento interdisciplinar. Hoje, existem dois tempos mensais dedicados a isso. Queremos provocar impactos semelhantes no Ensino Médio, inclusive na rede estadual. Inicialmente, vamos atuar em 30 escolas, distribuídas por diferentes regiões do município do Rio de Janeiro. Mais adiante, a ideia é chegar a pelo menos uma escola estadual em cada novo município atendido. É desafiador lidar com cerca de 22 disciplinas e múltiplos componentes curriculares, mas já vivemos essa experiência no Colégio Estadual José Leite Lopes, a Escola Nave, e sabemos o quanto é complexo e, ao mesmo tempo, potente. Os jovens se mobilizam muito quando se conectam a uma causa. Eles se engajam, assumem protagonismo e respondem de forma muito ativa. Por isso, no Ensino Médio, vamos trabalhar fortemente com mídias e educação midiática como eixo estruturante das ações.

O programa Esse Rio É Meu é desenvolvido em conjunto pela Secretaria Municipal de Educação e pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente da Prefeitura do Rio, em parceria com a oscip planetapontocom e a concessionária Águas do Rio – patrocinadora do programa. O objetivo do programa é engajar escolas na recuperação e preservação dos rios. Cada grupo de escolas da rede pública de ensino do Rio ficou responsável por desenvolver ações em torno de um dos corpos hídricos da cidade.

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